
LUNATERRA
Império

A esperança na exploração, reconstrução e diplomacia
A primeira fronteira para colonização espacial
Durante a constante evolução tecnológica do mundo antigo, centenas de anos antes do impacto, uma expedição multinacional financiada por grandes empresas de tecnologia, cruzaram a primeira fronteira para a colonização do espaço. Com um seleto e admirável grupo de cientistas e militares, foi criada a primeira instalação na lua, visando edificar um polo tecnológico habitável como base para novas explorações espaciais. Essa utopia era a promessa, não só de um centro de pesquisas e base para novas e mais distantes expedições, mas, também, de um exclusivo retiro para as elites financeiras que subsidiaram o projeto.
A colônia lunar prosperou e se expandiu como base de pesquisas, utilizando recursos que foram levados da Terra, assim como recursos lunares, produzidos em estufas construídas para subsistência dos profissionais e suas famílias que lá residiam. Sua situação mudou quando inesperadamente a colônia lunar detectou a rota do corpo celeste. Seus cálculos, assim como os dos cientistas terrestres, não previam a colisão do asteroide com a terra, porém devido a sua facilidade e aos recursos avançados de monitoramento da atividade espacial em torno do planeta, conseguiram avistar o segundo objeto que, através de seus cálculos, colidiria com Oberon 347, conferindo uma oportunidade para alguns.
Com pouco tempo para ação, as elites financeiras e militares de diversas nações terrestres, dotadas do privilégio da informação, decidiram por salvar a si mesmas, reuniram às pressas seus recursos para enviar, em caráter emergencial, um destacamento de astronaves para a lua.
Em posições de poder e utilizando-se da salvaguarda financeira de terem investido, eles reivindicaram a colônia lunar e partiram da terra sem alardes, simulando uma nova e rotineira remessa à lua. Longe das tragédias e do apocalipse que se instauraria, as elites fizeram do satélite seu novo lar, mas levaram consigo a ganância e a opulência de seu estilo de vida.
A cidade preparada para uma população concisa de cientistas, pesquisadores, engenheiros e militares, não suportaria a longo prazo o imprudente estilo de vida de seus novos habitantes. E consequentemente, em algumas décadas, os recursos calculados trazidos da terra começaram a se esgotar, enquanto o suprimento produzido na lua não era mais suficiente para sustentar toda população. Os magnatas agora na lua, não dispostos a diminuírem seus privilégios, vendo-se diante da escassez iminente em mais alguns anos, usaram de seu privilégio e ordenaram que novas expedições fossem criadas. Desta vez com o objetivo de reconhecer e recolonizar a terra. O verdadeiro intuito, no entanto, não visava somente adquirir recursos, com o esvaziamento da colônia, as elites manteriam a lua para si, um paraíso para mais alta classe, e se aproveitariam da devastação terrestre como forma de controle sobre as outras classes. Todavia, não era imaginado por eles que sociedades prósperas e aberrações selvagens houvessem se desenvolvido, dificultando a reconquista de territórios e recursos na terra.
Os lunarianos, que há gerações viviam isolados, enviaram colonizadores para restabelecer uma presença na Terra. Desconhecendo a existência de seres vivos e das I.As evoluídas após o impacto, eles se instalaram de forma neutra, buscando alianças com as sociedades humanas e as I.As para assegurar a sobrevivência e o progresso de sua civilização. O Império Lunaterra, é a união da colônia lunar e a nova colônia terrestre.
Entre a ambição e a necessidade
A cultura lunariana sempre foi marcada pela inovação, pela disciplina e pela busca incessante por melhores condições de vida. Cresceram em um ambiente artificial, onde cada respiro era concedido por sistemas meticulosamente projetados e cada gota d’água era fruto de processos químicos complexos para criar a sensação de atmosfera terrestre. Para eles, a Terra não era apenas um mundo a ser explorado, era um paraíso perdido, um sonho impossível que se tornou realidade, mesmo que essa realidade seja muito mais aterrorizante do que já foi um dia.
Desde os primeiros passos na superfície devastada do planeta, os lunarianos perceberam que a natureza, mesmo em sua forma mais selvagem, era algo que nunca haviam experimentado. O som do vento sussurrando e acariciando seus rostos, o fluxo de rios cristalinos que cortavam colinas e a simples sensação da chuva tocando a pele se tornaram experiências quase transcendentes. O Império Lunaterra, construído sobre a base do controle e da engenharia, viu na Terra não apenas um recurso vital, mas um desejo ardente, um desejo de possuir, moldar e habitar este novo mundo.

Explorando a vastidão do velho mundo
OImpério Lunaterra sempre se orgulhou de sua ordem, disciplina e racionalidade. Em sua sociedade altamente organizada, não havia espaço para dissidência ou desordem. Os recursos eram escassos, e cada cidadão deveria contribuir para o bem comum. Aqueles que ameaçavam essa estabilidade: criminosos, rebeldes políticos e indivíduos considerados indesejáveis eram vistos como pesos mortos, elementos que comprometiam a harmonia do império.
Assim, quando as elites lunares decidiram que a Terra deveria ser explorada, eles iniciaram uma árdua pesquisa através sondas e escaneamento orbital do solo terrestre. Porém, a eficácia de seus dispositivos era comprometida devido a alta radiação ainda presente no planeta que impedia a comunicação e desempenho dos mesmos. Surgiu então uma solução conveniente: ao invés de desperdiçar equipamentos e cientistas preciosos em missões potencialmente suicidas, por que não usar aqueles que já estavam condenados?
Nomeada de Missão Erebos, essas incursões compostas pela escória lunariana, visaram a exploração do globo. Destacamentos pequenos e dispensáveis foram enviados da lua aos cantos mais remotos do planeta, com o objetivo de coletar amostras, reunir informações e relatar a colônia lunar.
Consequentemente, as incursões da Missão Erebos resultaram na perda de muitos lunarianos. Sem o conhecimento das novas ameaças, seus destacamentos acabavam mortos em biomas hostis, caçados por feras até então inimagináveis, ou perdidos e ilhados sem os devidos recursos para continuar suas jornadas.
Até hoje a prática de enviar destacamentos lunarianos compostos pelos indesejáveis, é uma solução para a colônia lunar, que expande suas informações sobre atuais condições de diversos territórios sem importar-se com a vida dos missionários.

Um grande passo para humanidade
As primeiras expedições encontraram na Terra um mundo brutal, repleto de horrores inesperados. Cidades fantasmagóricas, onde arranha-céus desmoronaram sob o peso do tempo. Florestas densas que haviam engolido antigos centros urbanos e os transformado em um novo tipo de bioma. Bestas mutantes, nascidas da radiação e da biologia corrompida. Máquinas abandonadas que ainda patrulhavam ruínas esquecidas, seguindo diretrizes antigas de um mundo que não existia mais.
Muitos lunarianos morreram logo nos primeiros dias. Alguns foram vítimas do ambiente, da fome, intoxicações e de predadores desconhecidos, outros enlouqueceram ao perceber que estavam sozinhos em um mundo que mal podiam compreender. Afinal, nem mesmo caminhar normalmente era possível para os lunarianos, dado a força superior da gravidade terrestre.
Todavia, contrariando as expectativas, houve um pequeno contingente de missionário da Erebos que sobreviveu. Esses pioneiros involuntários se tornaram os verdadeiros desbravadores do planeta pós-colapso, descobrindo abrigos, aprendendo a caçar e, ocasionalmente, encontrando outros humanos que haviam resistido ao apocalipse.
Esses recém chegados ao planeta, apesar de serem a escória lunariana, aportavam munidos da mais refinada tecnologia desenvolvida por décadas pelas melhores mentes científicas. Suas cápsulas de exploração eram equipadas com um vasto suporte de aparatos para qualquer terreno ou situação, desde reatores de energia e compostos para restabelecer a química do solo, até armamento especializado e veículos adaptáveis de alta tecnologia. Previsivelmente, não tardou para que a humanidade que vivia de maneira miserável nas ruínas da sociedade, vissem nos lunarianos a esperança de reconstrução.
Com o tempo, os lunarianos na Lua começaram a receber sinais intermitentes dos sobreviventes da Missão Erebos. Relatos de territórios seguros, de água potável, de civilizações fragmentadas que poderiam ser aproveitadas. As informações fornecidas por esses condenados traçaram o primeiro esboço do mapa das Terras Vazias.
O legado dos condenados
A Missão Erebos serviu ao seu propósito. Os lunarianos da colônia lunar receberam os dados necessários e, um ano depois, quando as verdadeiras expedições militares e científicas aterrissaram no planeta, eles já dispunham de conhecimento sobre os riscos e as oportunidades para iniciarem seu processo de recolonização. No entanto, o Império Lunaterra nunca reconheceu oficialmente esses pioneiros forçados.
Para os registros lunares, a verdadeira colonização começou apenas com a chegada dos primeiros soldados e engenheiros, e não com os condenados que vieram antes deles.
Mas o planeta não esquece. O sangue dos primeiros lunarianos a pisarem em seu solo ainda está marcado nas ruínas e florestas das Terras Vazias. E aqueles que sobreviveram, espalhados pelo mundo, carregam consigo uma verdade incômoda: o Império Lunaterra não nasceu glorioso como os próprios gostam de imaginar. Ele foi construído sobre os ossos daqueles que, sem humanidade ou empatia, foram enviados para morrer.
Após a fundação da base lunariana no planeta, esses primeiros grupos de expedições da missão Erebos encontraram-se divididos em pensamento e objetivo. Com a realidade de um novo mundo abarrotado de possibilidades, os ex-condenados acabaram se dividindo, com cada um escolhendo o próprio destino.
Os Redimidos
Redimidos de Erebos, viram na descida do império ao planeta, uma última chance de redenção. Sobrevivendo ao caos e à hostilidade do planeta, provaram sua utilidade ao Império Lunaterra, tornando-se guias, espiões e líderes de expedições. Seu conhecimento dos biomas, criaturas e sociedades humanas os tornou uma peças-chave na expansão lunariana. Dignos de cidadania plena, estes viveram na busca incessante por reconhecimento, servindo fielmente ao Império, ou então, para alguns casos, conspirando a fim de traçar seu próprio destino.
Os Subjugados
Quando as verdadeiras expedições militares e científicas chegaram, os sobreviventes de Erebos foram reintegrados à força ao Império Lunaterra. Aqueles sem habilidades excepcionais foram incorporados como soldados ou trabalhadores braçais, para que o império ainda pudesse fazer uso de seus conhecimentos adquiridos sobre no planeta.
Os Rebeldes
Houveram também aqueles que rejeitaram a ideia de retornar ao jugo lunariano. Adaptaram-se ao planeta, juntando-se a comunidades humanas sobreviventes ou até mesmo formando seus próprios grupos. Esses ex-condenados tornaram-se líderes comunitários, mercenários ou chefes de bandos hostis. Para os seus olhos, os Lunarianos eram algozes e a única alternativa era resistir a qualquer tentativa de dominação.
Os Desertores
Compondo uma parcela daqueles que nunca mais foram encontrados, os desertores silenciaram seus rastreadores, desaparecendo na imensidão das Terras Vazias. Para o império Lunariano, eles foram simplesmente dados como mortos. Mas entre algumas comunidades humanas, histórias falam de estranhos que vivem na periferia da civilização. Indivíduos que falam a língua dos Lunarianos, mas que evitam qualquer contato com eles.
O restabelecimento civilizacional
A expansão lunariana não é apenas uma estratégia militar ou econômica é um reflexo de sua própria identidade. O Império Lunaterra não vê sua missão como uma simples colonização, mas sim como um projeto de reconstrução civilizacional. Para eles, os sobreviventes humanos e as IAs remanescentes não são apenas habitantes deste mundo, mas fragmentos de um passado caótico que precisam ser organizados sob uma nova ordem.
Eles adotam uma abordagem inicialmente diplomática. Ao encontrarem pequenas sociedades humanas ou enclaves de máquinas sencientes, oferecem integração ao império, fornecendo tecnologia, segurança e infraestrutura em troca de lealdade. Muitos sobreviventes vêem neste acordo uma bênção, um retorno à estabilidade e à prosperidade,
todavia há outros que enxergam nele as amarradas de um sistema fracassado, oferecendo resistência.
Quando encontram oposição, os lunarianos não hesitam em recorrer à força. Sua doutrina militar é altamente eficaz, baseada em tecnologia de ponta, unidades táticas altamente treinadas e armamento adaptável a qualquer cenário. Seus embates são rápidos, cirúrgicos e com mínima margem para erro. Eles não procuram exterminar sociedades hostis, em vez disso, esmagam a resistência e oferecem aos derrotados a escolha de integrar-se ao império ou, em última hipótese, aliar-se à ele. Aqueles que não encontram-se à vontade com essas opções, são varridos para insignificância.
Os limites do império
Apesar de sua postura expansionista, os lunarianos não se consideram conquistadores tirânicos. Para eles, a expansão é necessária a fim de garantir a sobrevivência e a qualidade de vida da espécie humana, mas sobretudo de sua própria sociedade. A colônia lunar, embora tecnologicamente avançada, é limitada em recursos e infraestrutura. A Terra, por outro lado, representa a abundância mesmo em seu estado devastado, com sua biodiversidade, seus oceanos e seu solo. Riquezas estas que a Lua jamais poderá dispor.
Contudo, os mistérios e perigos das Terras Vazias, com criaturas mutantes, ruínas infestadas de autômatos enlouquecidos e biomas alterados, continuam a desafiar a colonização lunariana. O império encontra resistência a seu domínio, em especial, com algumas das sociedades humanas, que resistem ferozmente à ocupação, recusando-se a se curvarem a um império estrangeiro. Certas IAs também, evoluídas para além de sua programação original, vêem os lunarianos como usurpadores e uma ameaça à sua existência, dificultando os avanços do império.
Não obstante, o objetivo dos lunarianos continua sendo a expansão acima das dificuldades. No encalço de territórios que garantam recursos e qualidade de vida para sua população, os lunarianos expandem integrando máquinas e sociedades humanas, sempre dispostos a utilizar da força quando necessário.
Entretanto, o Império Lunaterra não está isento de conflitos internos. Dentro de suas próprias fileiras há lunarianos que questionam os limites de sua expansão. Alimentada principalmente por aqueles que passaram tempo demais em meio aos terráqueos, essa divergência dentro império é movida pela interrogação de qual a linha intangível a ser cruzada que separa os lunarianos serem vistos como uma esperança de reconstrução, para se tornarem tiranos imperiais, governando um mundo que nunca lhes pertenceu.

